Fédon - Teoria dos contrários
Capitulos anteriores:
Fédon: Introdução
Fédon – Como o filósofo encara a morte I
Fédon – Como o filósofo encara a morte II
Fédon – Como o filósofo encara a morte III
Fédon – Como o filósofo encara a morte IV
Uma vez aceite a morte, Sócrates mostra aos seus discípulos como alcançou tal tranquilidade. Prova então a imortalidade da alma segundo vários aspectos. A teoria dos contrários, a Reminiscência e a Teoria das Ideias.
Sócrates: [...] quando uma coisa se faz maior, não é, necessariamente, do que antes era mais pequeno que ela se faz maior? [...] E não provirá, igualmente, o mais fraco do mais forte e o mais ligeiro do mais vagaroso?
Cb: É absolutamente certo.
Sc: [...] o Pior não se origina do melhor e mais justo do injusto?
Cb: Porque não?
Sc: Estamos, portanto, em posse deste principio: todas as coisas contrárias nascem daquelas que lhes são contrárias.
Cb: Indubitavelmente.
Sc: Mas há ainda mais. Entre cada um dos contrários em todas as coisas que os têm, há duas gerações: uma deste para aquele e outra daquele para este. Com efeito, entre uma coisa maior e outra mais pequena não existe crescimento e decrescimento? E não chamamos ao primeiro crescer e o segundo decrescer? [...] Não sucederá o mesmo com a decomposição e a composição, com o arrefecimento e o aquecimento [...]?
Cb: Sem dúvida.
Sc: [...] Viver terá algum contrário?
Cb: Estar morto?
Sc: Portanto, não se originarão um do outro, visto serem contrários, e as gerações que entre si se efectuam, não serão duas [...]? Assim [...] de um lado temos dormir, do outro estar acordado; e de dormir nasce estar acordado e de estar acordado, dormir. Quanto às suas gerações, uma é adormecer e a outra acordar. [...] [agora], não afirmas tu que estar morto é o contrário de viver?
Cb: Afirmo.
Sc: Portanto daquilo que vive que nascerá?
Cb: O que está morto.
Sc: E do que está morto?
Cb: [...] Aquilo que vive.
Sc: [...] Uma das gerações correspondentes a estes dois estados nos é clara? Morrer, sem dúvida, é-nos bem conhecido. [...]Devemos negar a geração contrária e dizer que a natureza deste lado é coxa, ou será preciso admitir que morrer também tem a sua?
Cb: Sem dúvida.
Sc: E Qual será ela?
Cb: Reviver.
Sc: [...] sendo assim, parece-me que há fundamento bastante para dizermos que as almas dos mortos existem algures, necessariamente, donde outra vez regressam à vida. [...]Se, por exemplo, existisse adormecer, mas o acordar proveniente do dormir, não lhe correspondesse [...] se tudo se unisse e jamais se separasse [...] se tudo quanto participa na vida morresse e se conservasse depois na morte, não seria da absoluta necessidade que todas as coisas, por fim, estivessem mortas e que nada existisse com a vida? Por que, caso o que vive não nasça do que morreu antes, vindo a morrer, como se poderia evitar que fosse tudo absorvido pela morte?
Cb: [...] o que tu dizes considero-o absolutamente certo.
Sc: [...] Antes é um facto o regresso à vida, que os vivos nascem dos mortos, que as almas dos mortos subsistem e que há um destino melhor para as boas e um pior para as más.
Ora bem é do conhecimento geral que a filosofia hindu tem como uma das premissas comuns a todas as suas escolas a teoria do Karma. Estão sujeitos a esta todos os seres não iluminados (aqueles que ainda não conseguiram discernir o real do ilusório, o mutável do imutável). É baseado na premissa que toda a acção tem uma reacção. Assim todos nós estamos dependentes das nossas acções e/ou impressões (samskaras) passadas. Estas vão originar qual vai ser o destino da nossa próxima vida. Isto não tem necessariamente que ser visto como uma fatalidade, mas antes como uma responsabilização do nosso próprio destino (que está por consequência nas nossas mãos). A teoria da reencarnação é aceita por todos os hindus como uma coisa certa, sem necessidade de argumentos socráticos para serem convencidos. A fé nas experiências internas dos místicos indianos reflectidas nas escrituras é suficiente.
No primeiro tratado explicitamente yoguico, O Bhagavad Geeta, o Senhor Krishna tenta convencer Arjuna que o seu deve é lutar, dado que é guerreiro. Este não quer dado que do outro lado do campo de batalha estão os seus primos e familiares.
Então Krishna afirma que os sábios não sentem pena nem pelos vivos nem pelos mortos (II.11). Diz que tal como o jovem passa a velho, também a alma passa a outro corpo. (II.13). Que tudo o que é quente e frio, que causa dor e prazer tem um principio e um fim. (II.14). Assim aqueles que percebem que a dor e o sofrimento são o mesmo, são aqueles que podem entender a imortalidade da alma. (II.15). Os corpos vão chegar a um fim, contudo a alma continuará, por isso luta, Arjuna (II.18).
Apercebendo-se de que a essência de todas as coisas é imortal, que a vida e a morte são o mesmo, porque não lutar, contudo deve faze-lo sem procurar para ele mesmo os frutos da vitória.
Ora esta versão muito mais espiritual e menos lógica está altamente impressa na mentalidade indiana, mas não deixa de ser uma extensão do pensamento socrático. Há que notar que há escolas indianas que interpretam o Geeta de uma forma muito mais lógica, dando-lhe um carácter mais racional que devocional.
Fédon: Introdução
Fédon – Como o filósofo encara a morte I
Fédon – Como o filósofo encara a morte II
Fédon – Como o filósofo encara a morte III
Fédon – Como o filósofo encara a morte IV
Uma vez aceite a morte, Sócrates mostra aos seus discípulos como alcançou tal tranquilidade. Prova então a imortalidade da alma segundo vários aspectos. A teoria dos contrários, a Reminiscência e a Teoria das Ideias.
Sócrates: [...] quando uma coisa se faz maior, não é, necessariamente, do que antes era mais pequeno que ela se faz maior? [...] E não provirá, igualmente, o mais fraco do mais forte e o mais ligeiro do mais vagaroso?
Cb: É absolutamente certo.
Sc: [...] o Pior não se origina do melhor e mais justo do injusto?
Cb: Porque não?
Sc: Estamos, portanto, em posse deste principio: todas as coisas contrárias nascem daquelas que lhes são contrárias.
Cb: Indubitavelmente.
Sc: Mas há ainda mais. Entre cada um dos contrários em todas as coisas que os têm, há duas gerações: uma deste para aquele e outra daquele para este. Com efeito, entre uma coisa maior e outra mais pequena não existe crescimento e decrescimento? E não chamamos ao primeiro crescer e o segundo decrescer? [...] Não sucederá o mesmo com a decomposição e a composição, com o arrefecimento e o aquecimento [...]?
Cb: Sem dúvida.
Sc: [...] Viver terá algum contrário?
Cb: Estar morto?
Sc: Portanto, não se originarão um do outro, visto serem contrários, e as gerações que entre si se efectuam, não serão duas [...]? Assim [...] de um lado temos dormir, do outro estar acordado; e de dormir nasce estar acordado e de estar acordado, dormir. Quanto às suas gerações, uma é adormecer e a outra acordar. [...] [agora], não afirmas tu que estar morto é o contrário de viver?
Cb: Afirmo.
Sc: Portanto daquilo que vive que nascerá?
Cb: O que está morto.
Sc: E do que está morto?
Cb: [...] Aquilo que vive.
Sc: [...] Uma das gerações correspondentes a estes dois estados nos é clara? Morrer, sem dúvida, é-nos bem conhecido. [...]Devemos negar a geração contrária e dizer que a natureza deste lado é coxa, ou será preciso admitir que morrer também tem a sua?
Cb: Sem dúvida.
Sc: E Qual será ela?
Cb: Reviver.
Sc: [...] sendo assim, parece-me que há fundamento bastante para dizermos que as almas dos mortos existem algures, necessariamente, donde outra vez regressam à vida. [...]Se, por exemplo, existisse adormecer, mas o acordar proveniente do dormir, não lhe correspondesse [...] se tudo se unisse e jamais se separasse [...] se tudo quanto participa na vida morresse e se conservasse depois na morte, não seria da absoluta necessidade que todas as coisas, por fim, estivessem mortas e que nada existisse com a vida? Por que, caso o que vive não nasça do que morreu antes, vindo a morrer, como se poderia evitar que fosse tudo absorvido pela morte?
Cb: [...] o que tu dizes considero-o absolutamente certo.
Sc: [...] Antes é um facto o regresso à vida, que os vivos nascem dos mortos, que as almas dos mortos subsistem e que há um destino melhor para as boas e um pior para as más.
Ora bem é do conhecimento geral que a filosofia hindu tem como uma das premissas comuns a todas as suas escolas a teoria do Karma. Estão sujeitos a esta todos os seres não iluminados (aqueles que ainda não conseguiram discernir o real do ilusório, o mutável do imutável). É baseado na premissa que toda a acção tem uma reacção. Assim todos nós estamos dependentes das nossas acções e/ou impressões (samskaras) passadas. Estas vão originar qual vai ser o destino da nossa próxima vida. Isto não tem necessariamente que ser visto como uma fatalidade, mas antes como uma responsabilização do nosso próprio destino (que está por consequência nas nossas mãos). A teoria da reencarnação é aceita por todos os hindus como uma coisa certa, sem necessidade de argumentos socráticos para serem convencidos. A fé nas experiências internas dos místicos indianos reflectidas nas escrituras é suficiente.
No primeiro tratado explicitamente yoguico, O Bhagavad Geeta, o Senhor Krishna tenta convencer Arjuna que o seu deve é lutar, dado que é guerreiro. Este não quer dado que do outro lado do campo de batalha estão os seus primos e familiares.
Então Krishna afirma que os sábios não sentem pena nem pelos vivos nem pelos mortos (II.11). Diz que tal como o jovem passa a velho, também a alma passa a outro corpo. (II.13). Que tudo o que é quente e frio, que causa dor e prazer tem um principio e um fim. (II.14). Assim aqueles que percebem que a dor e o sofrimento são o mesmo, são aqueles que podem entender a imortalidade da alma. (II.15). Os corpos vão chegar a um fim, contudo a alma continuará, por isso luta, Arjuna (II.18).
Apercebendo-se de que a essência de todas as coisas é imortal, que a vida e a morte são o mesmo, porque não lutar, contudo deve faze-lo sem procurar para ele mesmo os frutos da vitória.
Ora esta versão muito mais espiritual e menos lógica está altamente impressa na mentalidade indiana, mas não deixa de ser uma extensão do pensamento socrático. Há que notar que há escolas indianas que interpretam o Geeta de uma forma muito mais lógica, dando-lhe um carácter mais racional que devocional.
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