XSlave

Ex-trabalhadores por conta de outrém que se alforriaram e seguiram rumos completamente distintos!

sábado, março 29, 2008

Awareness test

Viver com atencao é das coisas mais dificeis que existe. Há que ir treinando.

sexta-feira, março 28, 2008

Cansaço, trabalho, dinheiro e ideais

E nas escolas passou a ouvir-se com mais frequência: "Estou cansado, vou-me embora."
"São professores empenhados que sentem que o seu trabalho não é reconhecido, que se aposentam por desânimo, que se queixam de uma excessiva burocratização da profissão", diz também Rita Bastos, presidente da Associação de Professores de Matemática.
Ver mais aqui.

Bem, todos vivemos de expectativas. O que me deixa um pouco revoltado é que as expectativas sao essencialmente monetàrias. As pessoas dizem sempre que ganham pouco para o que fazem. Depois ganham muito e dizem que estao cansadas na mesma. Dizem que têm que trabalhar 35 horas semanais para preparar as aulas quando esse é o horário de todas as pessoas.
Eu nao trabalho 35 horas semanais. Se puder nunca hei-de trabalhar. Valorizo demasiado o meu tempo livre, porque é nesses momentos que cresco noutros campos. Preciso de tempo para o silencio, para a leitura, para amar e contemplar. Nao me importo de ter menos dinheiro, mas nao quero viver a contar os anos da reforma e passar os dias a comparar o meu salário com os demais que fazem mais ou menos, melhor ou pior que eu.

Tenho dito, por agora. Com a idade quem sabe se nao mudo de ideias. Espero mudar muitas vezes de ideias, mas quero manter os ideiais, porque sem eles a vida torna-se vazia.

terça-feira, março 25, 2008

Uma viagem ao mundo da Disney


sexta-feira, março 14, 2008

Trapattoni -Um lider que da pancada

Fèdon Conclusao

Capitulos:
Fédon: Introdução
Fédon – Como o filósofo encara a morte I
Fédon – Como o filósofo encara a morte II
Fédon – Como o filósofo encara a morte III
Fédon – Como o filósofo encara a morte IV
Fédon – Teoria dos Constrários
Fédon – Teoria da Reminiscência I
Fédon – Teoria da Reminiscência II
Fédon – Teoria da Reminiscência III
Fédon – Teoria das Ideias I
Fédon – Teoria das Ideias II
Fédon – Teoria das Ideias III

Para gaudio de muitos e tristeza de poucos acabou esta reflexao sobre o Fédon de Platao. Ficou um pouco mais extenso que esperava. Ficou também muito técnico e até um pouco enfadonho creio. Contudo o objectivo foi cumprido. Para quem tiver paciência e interesse tem aqui um bom documento de análise e comparacao. Pode conter alguns erros e imprecisoes dado que muitas coisas vieram da minha memória. Talvez um dia o melhore e o adapte. Obrigado a todos aqueles que leram pelo menos um paragrafo.

Fédon- Teoria das Ideias III

Real e Irreal

Sc: A alma do verdadeiro filósofo [...] renuncia, na medida de suas forças, aos prazeres e aos desejos, às aflições e aos medo [para evitar o maior e último de todos os males].
Cb: Que mal é esse?
Sc: É ser obrigada a alma, ao sentir um vivo prazer ou uma grande aflição, a acreditar que a origem destes sentimentos é o que de mais real e de mais verdadeiro existe apesar de não o ser. Ora as coisas mais aptas para produzirem isto são as visíveis. Ou não?
Cb: Com toda a certeza.
Sc: E é nestas condições que alma está presa ao corpo. [...] [O filósofo] enquanto viver, deve, guiado pelo raciocínio e cingindo-se sempre a ele, acalmar as paixões e não afastar os olhos do que é verdadeiro, divino e superior à opinião, nem tomar outra coisa como alimento.

O yoga como definição clássica procura que as flutuações da mente cessem, para que se possa aceder à verdade. Ora estas flutuações (vrttis) podem ser de qualquer tipo: Patanjali dividi –os em cinco: Conhecimento Verdadeiro, Conhecimento Falso, Imaginação, Dormir e Memória.

Vejamos alguns exemplos: Nós sabemos que certas coisas são verdadeiras. Por exemplo, quando vemos fumos sabemos que existe uma fonte de emissão desse fumo (uma árvore a arde eventualmente). Ora a percepção desta realidade é, segundo Patanjali, uma distracção da mente e portanto deve ser parada. Quando imaginamos algo, mesmo que seja um local relaxante durante uma meditação é porque a tua mente está a flutuar para esse lugar que não existe, que tu criaste. Isso também é para ser eliminado. O Sono é estado da mente, um estado da mente inconsciente, e por ser um estado também te distrai.

Só quando todos os vrittis forem anulados (ou enquanto as paixões não forem acalmadas segundo Sócrates) é que se atinge a tal estado de samadhi em que nada se deseja, mas anda se não rejeita, não existe gostar nem odiar, etc. O chamado estado de Sat-Chit-Ananda. (eterno, Presente, Êxtase) por alguns filósofos Hindus.

Aurobindo fala sem descanso que o objectivo do ser humano é evoluir e para alcançar tal torna-se necessário nunca esquecer a força divina está sempre por detrás de tudo. Como diz Sócrates: “não afastar os olhos do que é verdadeiro, divino e superior à opinião”.

Fédon- Teoria das Ideias II

Consequências das diferenças

Na hora da morte Sócrates interroga-se sobre o estado do corpo e da alma. O corpo entre num estado de decomposição, mas o processo não é directo. É um processo lento e existem algumas partes do corpo que resistem ao processo de decomposição como sejam os ossos e os tendões.
E o destino da alma?
Sc: Se a alma se separa do corpo em estado de pureza[...] então vai para o que lhe é semelhante, para o invísivel, imortal e intelígivel. [...]Aproxima-se da éspecie divina que só é permitida a quem amou a sabedoria.
[...] Mas suponhamos que se separa do corpo manchada e impuara, pois conviveu sempre com ele, serviu-o, amo-o e deixou-se seduzir por suas paixões e prazeres, a ponto de julgar que nada existia na realidade a não ser o corporal.[...] Uma alma assim faz-se pesada e arrasta-se de novo para a região vísivel. [...]

Segundo o místico moderno indiano, Osho, a lei do Karma é isso mesmo, uma lei, tão natural como as leis da física. Não tem nada a ver com um Deus barbudo que castiga, é uma lei. Se as acções são correctas as consequências serão positivas, caso contrário a lei porta consequências negativas. Não existe aqui nenhum juízo de valor, é uma lei, uma lei que se transforma em justiça: o universo é perfeito. É aquilo que os cristãos gostam de dizer: Deus escreve direito por linhas tortas. Quantas vezes já nos perguntamos: porque é que isto me está a acontecer? O problema é que o fazemos apenas em situações que nos correm mal, deveríamos também faze-lo quando tudo vai de vento em popa, e aí sim começamos a aproximar-nos da verdade, a verdade pura.

Fédon- Teoria das Ideias I

Classificação do corpo e da alma

Sócrates: Admitirão o Igual e o Belo em si mesmo [...] alguma vez a mínima mudança?
Cebes: Necessariamente.
Sc: E quanto à multidão de seres belos, como homens, cavalos, vestidos [...] quer sejam iguais, quer belos [...] permanecem sempre os mesmos?
Cb: É como dizes, jamais permanecem os mesmos?
Sc: [...] os podes tocar, ver ou perceber por meio de qualquer dos sentidos, ao passo que as coisas que são sempre da mesma maneira não é possível apreende-las, a não ser o pensamento, portanto são invísiveis e não as alcançam os olhos?
Cb: É pura verdade.
Sc: Admitamos duas espécies de seres: visíveis e invisíveis. [Agora] haverá em nós alguma coisa mais, além da alma e do corpo?
Cb: Não.
Sc: [Então podemos dizer que o corpo pertence ao visível e a alma ao invisível?]
Cb: Sim
Sc: [E como podemos classificar o corpo e a alma de acordo com aquilo que permanece sempre o mesmo e portanto é imortal e aquilo que sempre muda?]
Cb: [...] a alma é em tudo semelhante ao que permanece sempre o mesmo [...]
Sc: E o corpo?
Cb: Em que é mais semelhante à outra espécie [do mútavel].
Sc: [Considera ainda isto], enquanto a alma e o corpo se encontram unidos, ordena a natureza que este sirva e obedeça e aquela mande e governe. Olhados sob este aspecto, qual te parece ser semelhante ao divino e qual ao mortal?
Cb: [a alma] assemelhe-se ao divino e o corpo ao mortal.
Sc: [...] Pode-se concluir que a alma tem grande semelhança com o divino, imortal, inteligível, uniforme, indissolúvel e que permanece sempre o mesmo e se comporta da mesma maneira; o corpo é um extrema semelhante ao humano, mortal, não inteligível, multiforme, dissolúvel e que nunca se comporta do mesmo modo.

Platão na boca de Sócrates admite a existência de um mundo invisível aos nossos olhos. Algo que está para além dos sentidos. Apesar de ser um conceito que no ocidente apenas os poetas tem a legitimidade de falar, é algo que sempre existiu no oriente e que também existia no ocidente, mas que a mente decartiana veio eliminar. Na Índia é obvio que existe algo para além dos sentidos que apenas pode ser percepcionado em estados mentais de profunda meditação, mas que são tão reais como a comida que ingerimos cada dia. A próprio mente pertence ao mundo do perceptível apesar de ser através dela que fazemos a ponte entre o visível e o invisível, mais precisamente através da anulação das actividades da mente (yoga cita vrtti nirodah: Yoga é a cessação das flutuações da mente, Yoga Sutra I.2).

Apesar de ser algo difícil de alcançar, este discernimento é um objectivo real dos yogis. No caso do Budismo, apesar de ser considerado uma filosofia nihlista, por considera que tudo é sofrimento, acredita-se através do esforço individual é possível a qualquer um de nós descobrir esse “divino, imortal, inteligível, uniforme, indissolúvel e que permanece sempre o mesmo e se comporta da mesma maneira”. Se não tentarmos não vamos saber.

Fédon- Teoria da Reminiscência III

Definição de aprender

Sc: Portanto saber não é mais que ter conhecimento de alguma coisa e não se deixar privar dele. Ou não chama-mos ao esquecimento a perda do que se soube?
Sm: Com toda a certeza.
Sc: Se nós [...] viéssemos, quando nascemos , a esquecer aquilo que anteriormente aprendemos, mas no futuro, por intermédio dos sentidos, tornássemos a recordá-lo, não seria o que chamamos aprender mais do que recuperar conhecimentos que já nos pertenciam?
Sm: Sem dúvida.
Sc: [ultima ponto] ou nós nascemos com estes conhecimentos [ da igualdade em si e outras ideias essenciais] [...] ou aqueles [...] que se instruem, depois de nasceram, não fazem senão lembrar-se; e, neste caso, instruir-se seria apenas reminiscência.
Sm: É assim mesmo.
Sc: Não crês que todos os homens saibam estas coisas?
Sm: De modo algum.
Sc: Recordam-se então eles do que antes aprenderam [ou seja não nascem com os conhecimentos apreendidos]?
Sm: É claro
Sc: Quando é que as nossas almas adquiriram esses conhecimentos? Não foi, de certeza, depois de termos nascido.
Sm: Não decerto.
Sc: Seria antes?
Sm: Sim.
Sc: Por conseguinte, as almas existiam separadas dos corpos aptas a pensarem, antes de revestirem forma humana.

O yoga clássico contudo não rejeita o esforço humano para adquirir esse conhecimento. Contudo nos Yoga Sutras (IV.3) indica que as praticas do yogi têm como objectivo remover os obstáculos para que existência possa cumprir os seus desígnios, tal como o agricultor que cria os caminhos para a agua fluir, mas que a forma como este corre pelos campos é algo que está fora do controlo do yogi. É algo natural que não pode ser mudado. A água corre sempre de cima para baixo.

Todos os mestre dizem que a busca espiritual é ir ao encontro de algo que já está dentro de nós. U.G. Krishnamurti chama a isto o nosso estado natural. A busca não é mais do que procurar algo que já existe em nós.

De uma forma mais terrena temos o yoga integral de Aurobindo que na sua abordagem pedagógica diz peremptoriamente: “O primeiro principio do ensino é que nada pode ser ensinado.”. Isto claramente coloca a aprendizagem acima do ensino, onde o professor passa a mero facilitador ou guia daquele que aprende aquilo que já existe nele. De notar que este principio é posto em prática no sul da Índia, Pondicherry, na escola formada pelos seguidores de Aurobindo (SAICE: Sri Aurobindo International Center of Education).

Fédon- Teoria da Reminiscência II

Graus das ideias/Realidades essenciais (i.e. igualdade)

Sc: [...] as igualdades que existem nos pedaços de madeira [...] manifestam-se estas a nós iguais, em tão alto grau como a própria igualdade? Ser-lhes-ão, por acaso, inferiores ou iguais a ela?
Sm: São-lhe muito inferiores.
Sc: [...] para se poder fazer esta reflexão, é necessário ter-se visto primeiro aquilo a que o objecto, que se tem diante dos olhos, se assemelha, se bem que lhe fique inferior?
Sm: Forçosamente.
Sc: Por conseguinte, é preciso que tenhamos visto a igualdade num tempo anterior àquele, em que, vendo pela primeira vez objectos iguais, reflectimos que todos eles aspiram a ser tais quais a igualdade, sem que o consigam.
Sm: Assim é.
Sc: [...] esta reflexão [só pode vir ]da vista, do tacto ou [...] doutro dos nossos sentidos. [...] Portanto, é dos sentidos que se deve aurir a reflexão de que todas as igualdades, que estão ao seu alcance, tendem para o que é igual em si, sem que consigam atingi-lo. [...] Assim antes de havermos começado [...] a servir-nos, é necessário que tenhamos, dalgum modo, adquirido o conhecimento da igualdade em si, para com ela podermos comparar as igualdades percebidas pelos sentidos e verificar que todas aspiram a igualá-la, ficando, todavia, inferiores. [...] É, por consequência indispensável, [...] que antes de nascermos, o tenhamos adquirido [este conhecimento].

Os sentidos fazem parte do mundo fenomenal (prakriti), assim como a mente. Como tal vivem de acordo com as leis que regem o universo físico. Existe no entanto uma intuição sobre o funcionamento do universo e do imanifestado. (purusha).
Quando vimos ao mundo somos à partida um sub-produto de algo maior que nós (é uma involução). Não existem ideais previamente definidos (Ainda que os brahmins o tenham feito) mas sabe-se que é superior. Há quem lhe chame fé.

quarta-feira, março 12, 2008

Fédon- Teoria da Reminiscência I

Capitulos anteriores:
Fédon: Introdução
Fédon – Como o filósofo encara a morte I
Fédon – Como o filósofo encara a morte II
Fédon – Como o filósofo encara a morte III
Fédon – Como o filósofo encara a morte IV
Fédon – Teoria dos Constrários

A 2ª prova da imortalidade da alma.

Sócrates afirma que a nossa instrução não é mais do que uma reminiscência, ou seja, algo que vem de trás. Toda é a apreensão de conhecimento não é mais que um recordar.. Para isso torna-se indispensável que, num tempo anterior, tenhamos aprendido aquilo que recordamos no presente, ou seja, que a alma já teve outras oportunidades para além daquele que está associada à vida de este corpo de aprender.

I – Origem da reminiscência

Socrátes: [...] os namorados ao veram [...] um vestido [...] de que a pessoa por eles amada costuma servir-se, não só reconhecem [o vestido], mas vêm-lhes também ao pensamento a imagem da pessoa a quem ela pertence. Isto é o que se chama de reminiscência.
Cebes: Certamente.
Sc: Não é portanto verdade que, em todos estes casos, reminiscência procede não só de coisas semelhantes, mas até das dissemelhantes.
Sc: Nós afirmamos que o igual é alguma coisa. [...] a igualdade em si?
Símias: Devemos afirma-lo sem a menor dúvida.
Sc: E sabemos nós o que ela em si é?
Sm: Com toda a certeza.
Sc: Donde aurimos esse conhecimento? [...] Da consideração de pedaços de madeiras iguais [...] deduzimos o conceito de igualdade.[...] Mas [...] pedras e pedaços de madeira, apesar de permanecerem os mesmos, não se te afiguram umas vezes iguais, outras desiguais?
Sm: Sem dúvida.
Sc: O igual em si mesmo já te pareceu desigual, isto é, a igualdade já te pareceu desigualdade?
Sm: Jamais, Sócrates.
Sc: Portanto, a igualdade existente naqueles objectos não é idêntica à igualdade em si.
Sm: Não.
Sc: Mas [...] aqueles objectos iguais, ainda que diferentes da igualdade, te tem feito, não obstante, conceber a ideia e adquirir o conhecimento dela?
Sm: É muito verdadeira a tua asserção.
Sc: [...] Quando, ao veres uma coisa, és obrigado, pelo facto de a veres, a pensar noutra, seja semelhante ou não à primeira, o que se produz é, necessariamente, uma reminiscência.

O objectivo final do yoga é a transcendência e auto-realização. A percepção da existência de uma força unificadora que nos é comum e constitui a nossa essência. A isso os yogis chamam brahman. Este Brahman por ser luz não pode ser escrito em palavras dos homens por estas apenas serem uma sombra e a sombra nunca pode reflectir a luz. Contudo afirma-se que que as qualidades do Brahman é não ter qualidades e/ou atributos (nirguna). Numa essência tão divina os conceitos de tempo e espaço não existem, assim como o de igualdade. Desta forma a igualdade é algo que é criado pela manifestação humana deste brahman (também designado por purusha ou consciência). DE uma forma simples o conceito de igualdade é uma criação do homem. Contudo isto não é contra o argumento socrático que apenas diz que este conceito já existe antes de nascer, a diferença é que não existe um momento de criação, que sempre existiu. Aqui já dá ao conceito de igualdade (assim como a todas as Ideias: Belo, justo) um carácter divino.

Contudo pode-se interpretar isto do ponto de vista da alma individual. Para os hindus todos os seres são uma involução do Brahman ou Purusha, a que chamamos Atma. O objectivo dos seres é evoluir novamente para Purusha. É uma espécie de jogo ao qual não podemos escapar. Ora este Atma sendo uma involução do Purusha é-lhe inferior tal como dois pedaços de madeira iguais são inferiores à igualdade em si. Pode aproximar-se muito do ideal, mas quase nunca o atinge. Aqueles que o conseguem são despertos, iluminados, budas ou outro qualquer nome que lhe queiramos dar.

segunda-feira, março 10, 2008

Fédon - Teoria dos contrários

Capitulos anteriores:
Fédon: Introdução
Fédon – Como o filósofo encara a morte I
Fédon – Como o filósofo encara a morte II
Fédon – Como o filósofo encara a morte III
Fédon – Como o filósofo encara a morte IV

Uma vez aceite a morte, Sócrates mostra aos seus discípulos como alcançou tal tranquilidade. Prova então a imortalidade da alma segundo vários aspectos. A teoria dos contrários, a Reminiscência e a Teoria das Ideias.

Sócrates: [...] quando uma coisa se faz maior, não é, necessariamente, do que antes era mais pequeno que ela se faz maior? [...] E não provirá, igualmente, o mais fraco do mais forte e o mais ligeiro do mais vagaroso?
Cb: É absolutamente certo.
Sc: [...] o Pior não se origina do melhor e mais justo do injusto?
Cb: Porque não?
Sc: Estamos, portanto, em posse deste principio: todas as coisas contrárias nascem daquelas que lhes são contrárias.
Cb: Indubitavelmente.
Sc: Mas há ainda mais. Entre cada um dos contrários em todas as coisas que os têm, há duas gerações: uma deste para aquele e outra daquele para este. Com efeito, entre uma coisa maior e outra mais pequena não existe crescimento e decrescimento? E não chamamos ao primeiro crescer e o segundo decrescer? [...] Não sucederá o mesmo com a decomposição e a composição, com o arrefecimento e o aquecimento [...]?
Cb: Sem dúvida.
Sc: [...] Viver terá algum contrário?
Cb: Estar morto?
Sc: Portanto, não se originarão um do outro, visto serem contrários, e as gerações que entre si se efectuam, não serão duas [...]? Assim [...] de um lado temos dormir, do outro estar acordado; e de dormir nasce estar acordado e de estar acordado, dormir. Quanto às suas gerações, uma é adormecer e a outra acordar. [...] [agora], não afirmas tu que estar morto é o contrário de viver?
Cb: Afirmo.
Sc: Portanto daquilo que vive que nascerá?
Cb: O que está morto.
Sc: E do que está morto?
Cb: [...] Aquilo que vive.
Sc: [...] Uma das gerações correspondentes a estes dois estados nos é clara? Morrer, sem dúvida, é-nos bem conhecido. [...]Devemos negar a geração contrária e dizer que a natureza deste lado é coxa, ou será preciso admitir que morrer também tem a sua?
Cb: Sem dúvida.
Sc: E Qual será ela?
Cb: Reviver.
Sc: [...] sendo assim, parece-me que há fundamento bastante para dizermos que as almas dos mortos existem algures, necessariamente, donde outra vez regressam à vida. [...]Se, por exemplo, existisse adormecer, mas o acordar proveniente do dormir, não lhe correspondesse [...] se tudo se unisse e jamais se separasse [...] se tudo quanto participa na vida morresse e se conservasse depois na morte, não seria da absoluta necessidade que todas as coisas, por fim, estivessem mortas e que nada existisse com a vida? Por que, caso o que vive não nasça do que morreu antes, vindo a morrer, como se poderia evitar que fosse tudo absorvido pela morte?
Cb: [...] o que tu dizes considero-o absolutamente certo.
Sc: [...] Antes é um facto o regresso à vida, que os vivos nascem dos mortos, que as almas dos mortos subsistem e que há um destino melhor para as boas e um pior para as más.

Ora bem é do conhecimento geral que a filosofia hindu tem como uma das premissas comuns a todas as suas escolas a teoria do Karma. Estão sujeitos a esta todos os seres não iluminados (aqueles que ainda não conseguiram discernir o real do ilusório, o mutável do imutável). É baseado na premissa que toda a acção tem uma reacção. Assim todos nós estamos dependentes das nossas acções e/ou impressões (samskaras) passadas. Estas vão originar qual vai ser o destino da nossa próxima vida. Isto não tem necessariamente que ser visto como uma fatalidade, mas antes como uma responsabilização do nosso próprio destino (que está por consequência nas nossas mãos). A teoria da reencarnação é aceita por todos os hindus como uma coisa certa, sem necessidade de argumentos socráticos para serem convencidos. A fé nas experiências internas dos místicos indianos reflectidas nas escrituras é suficiente.

No primeiro tratado explicitamente yoguico, O Bhagavad Geeta, o Senhor Krishna tenta convencer Arjuna que o seu deve é lutar, dado que é guerreiro. Este não quer dado que do outro lado do campo de batalha estão os seus primos e familiares.
Então Krishna afirma que os sábios não sentem pena nem pelos vivos nem pelos mortos (II.11). Diz que tal como o jovem passa a velho, também a alma passa a outro corpo. (II.13). Que tudo o que é quente e frio, que causa dor e prazer tem um principio e um fim. (II.14). Assim aqueles que percebem que a dor e o sofrimento são o mesmo, são aqueles que podem entender a imortalidade da alma. (II.15). Os corpos vão chegar a um fim, contudo a alma continuará, por isso luta, Arjuna (II.18).
Apercebendo-se de que a essência de todas as coisas é imortal, que a vida e a morte são o mesmo, porque não lutar, contudo deve faze-lo sem procurar para ele mesmo os frutos da vitória.

Ora esta versão muito mais espiritual e menos lógica está altamente impressa na mentalidade indiana, mas não deixa de ser uma extensão do pensamento socrático. Há que notar que há escolas indianas que interpretam o Geeta de uma forma muito mais lógica, dando-lhe um carácter mais racional que devocional.

sábado, março 08, 2008

Dia Internacional da Mulher

Repito a homenagem que deixei neste blog exactamente â um ano atrás.

Quinta-feira, Março 08, 2007

Dia Internacional da Mulher
Parabéns a todas as pessoas que nasceram sem pilinha por serem as pessoas maravilhosas que são.

sexta-feira, março 07, 2008

Evangelho segundo Saramago

Dizem que uma mentira contada mil vezes se torna uma verdade. Imaginem agora que a história de nosso Jesus Cristo, filho de Deus Pai que está no céu, mas também filho de José o Carpinteiro e Maria, também ela feita santa fosse contada de outro modo!

Imaginem que um acto de amor (e dever, porque às vezes o amor é um dever) concebeu um menino na terra que não é mais que a vontade de Deus, aliás como tudo o que existe, sempre existiu e sempre existirá. A semente do Senhor que está no céu foi misturada com a semente do pai que está na Terra. Assim nasceu Jesus, que desde o principio dos princípios nasceu para morrer, tal como todos aqueles que pisaram esta terra.

A diferença é que este tinha um destino diferente. Apesar de ninguém ter destinos iguais, este tinha um destino mais diferente dos outros. Morrer pelos outros para que estes se arrependam dos seus pecados. Apesar de um destino tão singular, Jesus demorou algum tempo para o descobrir. Teve que trabalhar como um pai de família, para viver, sofrer como um mendigo para comer e amar como um homem para perceber o significado do amor de Deus.

O problema eram mesmo os desígnios de Deus, um Deus ambicioso que luta pelo bem, mas que quanto maior for o seu reino maior o reino de Diabo, porque o bem e o mal são apenas a ausência de um pelo outro. Mas nem sempre o que é fácil é o melhor e até o que muitas vezes está decidido é difícil, como o destino. Apesar de não precisarmos que Deus nos diga Anda para andarmos, às vezes precisamos de um abanão para crescer. Tal como uma árvore geme se a cortam, um cão gane se lhe batem, um homem cresce se o ofendem.

É neste contexto que Jesus se aventura numa conversa directa com Deus tal era a sua confusão. Deus que é o tempo, a verdade e a vida, tudo sabe que se passará assim que Jesus morrer na cruz, pois para ele é igual se já aconteceu ou se vai acontecer. Assim é-lhe revelado todas as mortes e guerras que serão necessárias para manter o poder de Deus na terra. Obediente Jesus aceita o seu destino sem que isso lhe apague a chama do sofrimento da necessidade da existência de tanto mal para atingir tão simples bem.

Antes de partir voluntariamente para a cruz diz a Maria de Madgala (Maria de Madalena, noutros evangelhos, mas ex-prostituta em todos eles) que “mesmo que não possas entrar, não te afaste de mim, estende-me sempre a tua mão mesmo quando não puderes ver-me, se o não fizeres, esquecer-me-ei da vida, ou ela me esquecerá”. Estando lançados os dados da fé inabalável, parte para o calvário. Já no fim, antes que a última luz desta vida se apague, Jesus sofre e pede aos Homens que perdoem a Deus, por este não saber o que faz. E o último estertor é dado pensando na frase que um dia o seu pai da terra lhe disse : “nem eu posso fazer-te todas as perguntas, nem tu podes dar-me todas as respostas”.

quarta-feira, março 05, 2008

Jesus, Filho de Homem e Filho de Deus

Será que a história da humanidade teria sido diferente se no momento em que Jesus estava prestes a separar o corpo da alma pela primeira vez (aquela em que estava pregado a dois paus em cruz) tivesse olhado para o chao, em vez de para o ceu, e tivesse proclamado: "Homens, perdoai-lhe, que nao sabe o que faz!"?

segunda-feira, março 03, 2008

Mind and Relationships

Changes of mind can be observed primarily in our relationships with other people. Relationships are the real test of whether we actually understand ourselves better.
T.K.V. Desikachar

Arte e Razao

Nao percebo porque é que o literado ou o actor querem ser considerados intelectuais. Às vezes o artistico é intrinsecamento o oposto.
Yasmina Reza